terça-feira, 12 de julho de 2011

Como escrever um livro?


Como escrever um livro como se de um jogo de tabuleiro se tratasse, um artigo que achei bastante interessante do jornal i.
A casa de partida começa com uma tarefa simples: fazer um plano do livro.
Quem são as personagens?
Qual é o enredo?
Quantos conflitos existem?
Como será o final?
“Não comece o livro sem saber onde vai acabar. Quando isso acontece, os finais parecem colados a cuspo”, explica a formadora e guionista Susana Romana.
2. O enredo tem 3 partes simples: prolema, conflito e resolução, explica o poeta e professor de escrita criativa Pedro Sena-Lino. Sem escolher estas 3 partes não pode avançar.
3. Segundo os mandamentos de João Tordo não há espaço para a preguiça: “A primeira regra fundamental é parar de procrastinar, isto é, deixar de adiar o trabalho. Um escritos escreve todos os dias, mesmo que seja na sua cabeça, excepto se estiver doente (muito) ou acamado (com gravidade).”
4. Encontrar o ponto de vista do narrador é outra regra básica, explica a escritorea Lídio Jorge. “Temos de definir a voz do livro. Por exemplo, em Saramago, o narrador é omnisciente, vê tudo à sua volta. Lobo Antunes é o oposto, existe um grande “eu” que avança.”
5. Outra regra de ouro: para escrever uma página tem de ter lido pelo menos cinco, diz Pedo Sena-Lono. João Tordo acrescentou: “Como éque vamos saber se gostamos da prosa torrencial de Faulkner ou dis diálogos brilhantes e económicos de Hemingway se tudo o que lemos foi o Dan Brown? Escrever é uma maneira de imitar os grandes. Ninguém aprende sozinho.”
6. A sua personagem tem um desafio pela frente? Se a resposta for não, recue uma casa. “Como Kurt Vonnegut dizia: “Todas as personagens têm de crer algo, nem que seja um copo de água.” A personagem pode até querer que as coisas fiquem como estão, mas precisa de alcançar algo”, explica Susana. Prova superada? Ande uma casa!
7. “As personagens não podem ser banais nem apenas um estereótipo. Têm de nos surpreender, de nos revelar algo. Nelas há algo que nos ensina uma coisa nova”, explica Lídia Jorge.
8. A investigação é uma antecâmara. Mas nada de googlanço, diz o professor Luís Camelo. Raquel Ochoa, da “Escrever, escrever”, dá-lhe mais uma ajuda: “Da internet às bibliotecas, todos os recursos têm uma chave. Se queremos entender o que alguém sente a viajar de burro, devemos passar por isso. Investigação, bem divertida, por acaso…”
9. Todas as personagens são amiguinhas e não há um pingo de conflito? Recue três casas e pense melhor nas personagens. “Tem de haver conflito para despertar o interesse. Quando temos duas personagens muito semelhantes, acabamos por matar uma delas. O Dupond e Dupont não são para entrar num livro”, explica Susana Romana das Produções Fictícias.
10. Se não está a escrever um policial, pode avançar uma casa, mas se embarcou nessa aventura atenção ao conselho do envestigador e escritor JoséVegar. “A personagem principal normalmente não está do lado da lei, mas sim da moral dominante.” Por isso, um policia bonzinho que cumpre o estabelecido não é um bom caminho.
11. Pronto para começar?
O primeiro parágrafo é importantíssimo. Se começa a descrever o tempo, “naquela manhã chuvosa o vento soprava com força”, recue duas casas. É uma técnica batida, como explica Lídia Jorge. Outra é fazer a contextualização através de um grande plano, para passar para o pequeno. “Isto vem do século XIX, já não se usa.
12. Relembremos a ordem da escrita. Se errar vai para o início. Diz Luís Carmelo: “Um livro atravessa, no regime clásico, 4 fases: apresentação, compilação,, clímax e desenlace. Há que revelar o que se move no enredo e como se move; há que criar um cenário e há que proceder a ma cuidadosa eutanásia. Sim, os livros, na mão dos escritores morrem assistidos.”
13. Quantos pontos de exclamação usou? O escritor Elmore Leonard tem uma regra de ouro não pode usar mais de dois ou três pontos de exclamção num texto de 100mil palavras.
14. Não pode mexistir apenas uma acção principal. Por exemplo, o João vai dar a volta ao Mundo. A narrativa terá de ter várias acções e “andar a navegar de clímax em clímax”, diz Raquel Ochoa.
15. Alerta para principiantes. Pedro Sena-Lino avisa: deve ter cerca de três personagens e três acções. Mais é arriscado.
16. Perigo. Quantos adjectivos tem por frase? O adjectivo é como os hambúrgueres do McDonald´s – uma vez por mês não faz mal, todas as semanas a balança dispara. “O adjectivo usa-se quando o escritor não tem o poder de descrição.” Em vez de dizer que alguém é “elegante” descreva a forma como a pessoa está vestida e se comporta.
17. Quantas páginas temos de folhear até chegar a alguma acção? Mais de dias, recue 3 casas. “A tradição portuguesa é passar muito tempo a explicar a personagem. Temos de a pôr a agir. Dessa forma entendemos melhor quem é e passamos para o enredo”, explica o formador da Companhia do Eu, Pedro Sena-Lino.
18. Se pretende um retrato social, fica uma sugestão de José Vegar. “É difícil fazer a ponte entre a vida do protagonista e a sociedade. Tente ligar o último parágrafo do contexto particular com o primeiro do geral. Assilm não há sobressaltos”. Caso tenha usado o cliché de ilustrar a transição com a manchete de um jornal da época, recue duas casas.
19. Terminou o livro com o “E viveram felizes para sempre”? ou: “Acordei e tudo não passava de um sonho”? Recue 10 casas. Não é final que se apresente. O primeiro é o fechar do ciclo, sem deixar que o livro acompanhe os leitores. Sobre o segundo. Conceição Faria, formadora da Oficina do Conto, diz: “É uma fórmula fácil e redutora. O leitor sente-se traído.”
20. Acertou na equação do professor de escrita criativa Luís Carmelo: apagar mais do que escrever? Se sim, parabéns. “A capacidade de perder amor às nossas metáforas e rever o texto e mudá-lo é essencial”, defende Pedro Sena-Lino.

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